UNINTER
– CENTRO UNIVERSITÁRIO
AVALIAÇÃO
QUALITATIVA EM SALA DE AULA – Perspectivas e Possibilidades
PRIM, MAURINO¹ (Aluno)
LUSTOSA, FERREIRA FABIO² (Orientador)
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de mostrar a
viabilidade prática da avaliação qualitativa em sala de aula, tendo como
parâmetro a legislação e a fundamentação teórica sobre o assunto, que orienta a
prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Apresenta uma experiência realizada, pelo autor, em sua
prática docente com alunos das séries finais do Ensino Médio, pactuando com os
educandos que em todas as aulas eles seriam avaliados sob os critérios da
assiduidade, participação e envolvimento nas aulas. Essa metodologia levou em
consideração o pressuposto da cultura da nota, já que é recorrente no âmbito
escolar ouvir-se a pergunta: vale nota professor? Os resultados mostraram que o nível de
aprendizagem melhorou, pois os educandos ficaram mais motivados e comprometidos
com as atividades desenvolvidas em sala de aula. O compromisso da assiduidade,
aliado ao esforço da participação e do envolvimento, naturalmente favoreceu a
criação de um ambiente propício para a elevação da aprendizagem. A conclusão foi de que quando os alunos são
avaliados de forma contínua, processual e cumulativa assumem maior
responsabilidade e compromisso com as dinâmicas do processo educacional.
Palavras-Chave:
Avaliação. Ensino. Aprendizagem. Qualitativo. Método.
¹ Licenciado
em Geografia (UFPR, 1988) e Especialização
em Counseling – Aconselhamento, com habilitação
ao magistério superior (Bagozzi, 2005).
²
Corretor do grupo UNINTER.
1 INTRODUÇÃO
A avaliação é uma das dimensões do
processo educativo que tem alimentado um grande debate acerca dos métodos,
critérios, instrumentos e limites na prática pedagógica. A oferta do
referencial teórico é vasto.
Muitos
são os pesquisadores, educadores e estudiosos que tem se dedicado em vasculhar
o campo da avaliação, na educação, oferecendo uma substancial gama de
estratégias e métodos aos educadores que atuam em sala de aula.
Este trabalho visa percorrer o
caminho da avaliação, porém, mirando o holofote na avaliação qualitativa,
preconizada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (Lei nº 9394, de
20 de dezembro de 1996), que estabelece que os aspectos qualitativos devem ter
prevalência sobre os aspectos quantitativos.
Qual teria sido o espírito do
legislador aos estabelecer maior relevância sobre a qualidade em detrimento da
quantidade?
Na prática cotidiana da sala de
aula é possível privilegiar a qualidade em vez da quantidade?
Estas e outras questões serão
abordadas a seguir, incluindo a apresentação de uma experiência concreta
aplicada pelo autor, em sua prática pedagógica em sala de aula, num colégio da
rede pública do Estado do Paraná.
As pessoas, no cotidiano da vida,
desde a aurora até o ocaso, estão permanentemente diante do desafio de fazer
escolhas. As escolhas, antes da tomada da decisão, são precedidas por um
conjunto de avaliações, onde entra em jogo a análise de um conjunto de
hipóteses, verificações e possibilidades. Em termos práticos e exemplificando
poderíamos dizer: após feita a análise das condições atmosféricas, chuva, frio,
vento, calor, etc, é que definimos que
roupa e outros objetos vamos usar. Percebe-se, então, que o ato de avaliar é
algo intrínseco da natureza humana e está presente em todos os momentos.
Porém, fazer avaliações nem sempre
é uma tarefa fácil. Se para uns a escolha da roupa, em função das condições
climáticas, pode ser uma tarefa fácil, para outros pode ser mais difícil. Principalmente
se forem levadas em consideração outros aspectos, como por exemplo, para onde a
pessoa está indo: shopping, escola, trabalho, praia, etc.
Em se tratando da avaliação
escolar, aquela praticada na escola com a finalidade de promover ou reter o
educando, a problemática cresce em complexidade e responsabilidade. Por essa
razão, faz-se necessário aos educadores, mergulharem no oceano de possibilidades,
a fim de fazerem da avaliação uma atividade que seja justa e honesta, onde a qualidade tenha ascendência sobre a
quantidade.
2 AVALIAÇÃO – Evolução e Concepções
históricas
No campo teórico, as concepções
acerca da avaliação, sofreram alterações com o passar do tempo. Até o século
XIX, a avaliação e as práticas pedagógicas eram fortemente impregnadas por
mecanismos que tinham por finalidade exercer controle social sobre os
indivíduos e legitimar métodos autoritários aplicados pelos professores. Conforme nos mostram Teixeira e Nunes (2011, p.30). “o Estatuto ou
o Regimento não descobrem verdades, senão as inventam e as utilizam para
justificar as práticas sociais de controle, dominação e vigilância”, o espaço
escolar, como um todo, era permeado por certas violências pedagógicas. Essa
concepção de avaliação encontrava respaldo no meio social, haja vista as
relações serem estabelecidas sobre um viés autoritário. Na escola a prática
pedagógica corroborava essa prática autoritária.
As avaliações não tinham somente a
finalidade de verificar a aprendizagem. Por meio dela, sob a ameaça do professor de
complicar o aluno na hora da prova com questões difíceis, ele mantinha o
controle disciplinar sobre a turma. Embora esse modelo de avaliação já ter sido
superado no plano teórico, na prática, elas ainda persistem no ideários de
muitos educadores. Diria que não apenas estão no campo das ideias, assim como
também, ainda, estão presentes no
cotidiano das atividades nas escolas.
Elevando a avaliação para uma
função mais real e significativa no processo pedagógico, onde ela faz parte do
processo de ensino e aprendizagem, não mais algo marginal, mas sim integrante e
concomitante, surgem as modalidades de avaliação formativa e somativa.
A avaliação formativa, também
denominada de processual, ocorre ao longo de todo o período de aprendizagem,
sendo contínua, possibilitando uma percepção, quase que em tempo real, das
potencialidades dos educando, assim como também das fragilidades, a fim de
fazer as correções metodológicas em tempo hábil. No dizer de Both, (2011, p.
30), “o aspecto processual, também denominado formativo, encontra-se presente
na vida acadêmica ou escolar de todo o transcurso de formação”.
A avaliação formativa requer o uso
de um conjunto de estratégias e instrumentos que lhe dão especificidade.
Segundo Both (2011, p.33), “Estes são alguns instrumentos de avaliação
formativa: observação do desempenho e da contribuição do aluno; conselho
pedagógico; estudo de caso; seminário; debate; trabalho em grupo e relatório
individual.”
Por outra via, a avaliação somativa,
utilizando diversos instrumentos, tais como: provas, testes, trabalhos, entre
outros, identifica o desempenho da aprendizagem de uma forma pontual, com o
propósito de identificar se o aluno está em condições de dar continuidade em
seus estudos ou ficar retido.
Embora sob a ótica pedagógica a
avaliação formativa consiga demonstrar maior objetividade de incentivar e de
facilitar a aprendizagem, não se deve prescindir o lado positivo da avalição
somativa no processo educacional.
Outros dois conceitos com relação a
função da avaliação diz respeito a avaliação classificatória e diagnóstica.
Quando o objetivo do ato de avaliar estiver centrado na produção de uma nota
para medir quem é melhor ou pior, superior ou inferior estamos praticando uma
avaliação classificatória. Luckesi (1995 p.34) chama atenção para “função
estática de classificar um objeto ou um ser humano histórico num padrão
definitivamente determinado”. Com o engessamento do resultado impede-se a
função dialética da avaliação para a nova tomada de decisão.
No modelo da avaliação diagnóstica
o objetivo está centrado na verificação dos saberes já incorporados pelo
educando, com vistas a planejar novas estratégias de aprendizagem para
desenvolver suas potencialidades a partir do que o aluno já sabe. Luckesi (1995
p. 81) defende a avaliação diagnóstica que “deverá ser assumida como um
instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o
aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa
avançar no seu processo de aprendizagem”. Quando se pretende compreender a
relevância dos aspectos qualitativos, encontramos na avaliação diagnóstica uma
metodologia que visa identificar e valorar aspectos do processo de ensino e
aprendizagem, sendo por sua vez mais justa e motivadora para o educando.
O conceito de qualidade tem um
significado muito amplo e está diretamente ligado ao objeto em questão. O que é
qualidade para um pode não ser para outro. Logo, conclui-se que a qualidade é
subjetiva. No campo educacional, dizer que uma escola e boa ou de qualidade,
requer a análise de vários aspectos das práticas pedagógicas levadas a efeito
pela instituição na comunidade em que atua. Para Demo (1994 p. 30) “O que está
em jogo na avaliação qualitativa é principalmente a qualidade política, ou
seja, a arte da comunidade se autogerir”. Na dimensão política ou a forma de se
ter qualidade política é participar dos processos decisórios que definem aquilo
que é comum ou público. O ser humano é um sujeito essencialmente político.
Embora muitos ignorarem essa dimensão essencial, continuam sendo políticos e praticando
a política nas relações que estabelecem com o meio social. Se considerarmos a
qualidade política como condição para se ter qualidade de vida; se
considerarmos que a qualidade de vida está ligada à participação nas decisões
das demandas comunitárias. Então, a avaliação qualitativa requer o envolvimento
e a participação dos sujeitos envolvidos nela na definição de seus métodos,
suas perspectivas e possibilidades.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, (Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996), na alínea “a” do
inciso V do artigo 24º, estabelece com relação a avaliação: “avaliação contínua
e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de
eventuais provas finais”. Tomando o que está inserido no dispositivo legal
supra, faz-se necessário encontrar meios, estratégias, critérios e instrumentos
para que o aluno, em sala de aula, no processo de ensino e aprendizagem, possa ser
avaliado em sua dimensão qualitativa.
A avaliação diagnóstica, cumulativa
e formativa responde ao que se pretende caracterizar como avaliação
qualitativa. Conforme Melo e Urbanetz, (2008, p. 82), citando Luckesi, indica
que “a avaliação tem a tarefa de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o
instrumento dialético do avanço, terá que ser o instrumento da identificação de
novos rumos”. Os quatro elementos fundamentais da didática são: objetivo,
conteúdo, metodologia e avaliação. Esses quatro elementos tem por finalidade
viabilizar o processo de ensino e aprendizagem. Por essa razão, uma avaliação
eficiente precisa também ser um momento de aprendizagem. O contrário também é
verdadeiro: os momentos de aprendizagem também devem ser momentos de avaliação.
Ainda, para ser efetiva e séria, a avaliação deve estar comprometida com a
aprendizagem de três maneiras: avaliação do aluno; do professor e do contexto.
Por essa razão a
avaliação deve ser compreendida como uma prática pedagógica intrínseca ao processo
de ensino e aprendizagem, com função de diagnosticar o nível e apropriação de
conhecimentos pelo aluno. Sendo contínua, cumulativa e processual a avaliação
tende a refletir o desenvolvimento global do educando, respeitadas as suas
características individuais.
3 PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES DA
AVALIAÇÃO QUALITATIVA
No embasamento teórico e nos
dispositivos legais a avaliação qualitativa encontra-se uma farta
fundamentação. Porém, na prática cotidiana, em sala de aula, ela nem sempre é
bem compreendida, e muito pouco utilizada. Prevalece, ainda, a cultura da nota,
produzida através de provas, testes e trabalhos, mais voltados para a mera
produção de uma nota do que para fins de diagnóstico. Encontra-se muita
resistência nos educadores para a superação dos velhos paradigmas em relação a
avaliação. As justificativas que se costuma ouvir pelos corredores das escolas
são muito variadas. Passam pelos conceitos de que: “no meu tempo foi assim e eu
tive que aprender”; “Se não apertar na
prova os alunos não estudam”; “Comigo não tem moleza, a minha prova é de
“ferrar””; “Se a prova não for pesada eles só querem saber de brincar”.
Estes e outros chavões costumam
ecoar pelo espaço escolar, fazendo da avaliação um momento de ajuste de contas,
onde o professor parece querer afirmar a sua posição de “poderoso” e os alunos
devem obedecê-lo como cordeirinhos mansos e silenciosos. Quebrar paradigmas não é uma tarefa fácil.
Precisa de tempo e disposição para abrir mão de convicções enraizadas e incorporar
outras. Requer a reformulação de perspectivas e a visualização de novas
possibilidades dentro do mesmo contexto – o ambiente escolar. As mudanças geram
desequilíbrios e insegurança. Sair da zona de conforto de rotinas cristalizadas
para sistematizar novas práticas exige coragem e determinação. Não se deve
temer o novo. Ele é a única possibilidade para haver transformação e
crescimento. Precisamos ariscar mais e aceitar ficar na “corda bamba” para
aprender a lidar com dinâmicas novas em que nem sempre o professor precisa
estar no controle absoluto. O mundo é dinâmico. A realidade é dinâmica. A vida
é dinâmica. Isso permite compreender que tudo está sempre em constante
movimento. É nesse permanente bailar cósmico que nós nos encontramos e
necessitamos configurar a realidade visualizando sempre novas perspectivas e
possibilidades.
Trazendo este contexto para dentro
da sala de aula, fica mais explícito que os entes que compõem aquele espaço são
dotados de um dinamismo próprio. O conjunto de alunos cria, dentro da sala de
aula, estruturas de relacionamento que são típicas e com uma especificidade
para aquele grupo, que é impar. A avaliação dentro desse contexto necessita
levar em consideração essa configuração e particularidades. O que poderíamos
arguir, nessa ambiência, a título de avalição qualitativa? O que e quais atitudes são desejadas sob a
ótica da qualidade? Como viabilizar e mobilizar os interesses dos educandos
para a produção de um espaço educativo de qualidade? Essas e outras questões precisam estar sempre
na lista das preocupações e desafios dos educadores. É certo, pois, e sabido
que numa sala de aula não é somente a aprendizagem de um “certo conteúdo” de
uma “certa disciplina” que conta. O processo educativo é muito mais amplo. Além
do aprendizado de conteúdos essenciais específicos das disciplinas, o educando
também precisa aprender a ser gente, ou seja, tornar-se ser humano, capaz de
estabelecer relações de solidariedade e respeito para com os outros. A isso
poderíamos chamar de formação integral, que significa desenvolver o educando em
todas as suas dimensões: cognitiva, afetiva, psicológica, espiritual e motora.
Quando praticamos a avaliação com a
única finalidade produzir uma nota, estamos nos atendo tão somente à dimensão
cognitiva. Salientamos que quando as dimensões afetiva, psicológica, espiritual
e motora estão fragilizadas, o potencial cognitivo também se fragiliza. Uma
dimensão afeta a outra. Por essa razão torna-se mister desenvolver o educando
integralmente no espaço educativo, a fim de que todas as suas potencialidades e
“inteligências múltiplas” sejam estimuladas e trabalhadas.
Outro ponto que necessita ser
considerado na prática pedagógica está relacionado a concepção de conteúdos e
currículo. O conceito de currículo pode ser compreendido a partir do uso de uma alegoria ou parábola. Vamos
imaginar que todos os conhecimentos que dispomos acerca do mundo, que vão
constituir os conteúdos, estão armazenados em um grande supermercado. O
currículo, dentro desse cenário, seria o carrinho de compras. Assim, como no carrinho de compras colocamos
os produtos (conteúdos) que necessitamos, assim, também, no currículo colocamos
os conteúdos (conhecimentos) que os alunos devem receber em cada ano de
escolaridade. Os conteúdos brotam da vida. Estão no cotidiano das pessoas e são
consumidos permanentemente na relação que estabelecem com tudo que os cerca. A
sala de aula precisa se conectar com o mundo vivido que compõe a realidade.
Assim os conteúdos serão significativos e representativos do contexto social de
ondem nascem. O Ministério da Educação ao ir ao Supermercado (O Mundo) enche seus carrinhos (currículo) de produtos
(conteúdos) para cada modalidade de ensino define através dos PCN – Parâmetros
Curriculares Nacionais, aquilo que deve ser básico para todo o território
nacional. As Secretarias Estaduais de Educação também vão ao supermercado
encher seus carrinhos para cada ano de escolaridade e chama a isso de DCE –
Diretrizes Curriculares de Educação. A Escola na sua organização e constituição
também vai ao supermercado e enche os seus carrinhos para cada ano de ensino
que atendem e denominam isso de PPC – Projeto Político Curricular, cujo
arcabouço está definido no PPP – Projeto Político Pedagógico. O Professor, por
sua vez, de posse dos PCN, DCE, PPP e PPC vai elaborar o seu PTD – Plano de
Trabalho Docente. No Plano de Trabalho Docente vão constar os conteúdos
estruturantes, conteúdos básicos, objetivos, metodologia, avaliação e
referências bibliográficas. Desta feita o conteúdo que brota da vida e da
reflexão sobre a vida deve ser revolvido na sala de aula, constituindo-se
aprendizado para todos os sujeitos envolvidos no processo educativo.
Diante dessa problemática,
concebendo a sala de aula como um espaço multidimensional, não se deve privilegiar
ou restringir a avaliação a uma única dimensão. O equilíbrio emocional, o
respeito mútuo, o controle da corporeidade, o estado espiritual e psicoafetivo
são também manifestações dignas de valor e, por conseguinte, devem ser
observadas e registradas, pelos educadores, para compor uma “nota” dentro da
perspectiva da avaliação qualitativa.
A diversidade de sujeitos que
compõem a sala de aula, cada qual com suas peculiaridades, potencialidades, limitações,
necessidades especiais e outras diferenciações de gênero, orientação sexual,
cor, raça e credo transformam o ambiente da aula num miscigenado de múltiplos
fatores que precisam ser acolhidos e inseridos no processo educativo. Os conteúdos a serem trabalhados brotam da
vida e da reflexão sobre a vida. Muitas vezes, no apressamento de ensinar,
deixa-se de lado a vida na sala de aula. Se o educando é diferente na forma, no
tempo e na metodologia de aprender, então também precisa ser avaliado de forma diferente
para que o resultado não seja injusto ou incoerente e distorcidos da realidade.
4
UMA EXPERIÊNCIA DE AVALIAÇÃO QUALITATIVA
POSSÍVEL
O autor desse trabalho é docente da
Rede Pública do Estado do Paraná, e leciona a disciplina de Geografia para as
2ª e 3ª Séries do Ensino Médio, turno noturno, no Colégio Estadual
Desembargador Guilherme de Albuquerque Maranhão, situado na região Sul da
cidade de Curitiba-Pr.
Ao perceber algumas características
dos alunos do turno noturno, como, excesso de faltas, desistências e
repetências. Em sala de aula os alunos ficavam dispersos com conversas
paralelas, manuseio de celulares e outros materiais. As tentativas e os
esforços para motivar e despertar o interesse dos alunos invariavelmente resultavam
infrutíferas. Dialogando com os colegas docentes percebia-se atitudes
semelhantes também em suas aulas. As atividades de ensino e aprendizagem que
eram propostas, aos educandos, era comum ouvir alguns questionamentos do
tipo: vale nota? Tem que fazer? Posso
fazer em casa? Não estou querendo dizer
que esse tipo de questionamento seja uma exclusividade dos alunos do Colégio
Guilherme Maranhão, pois é sabido que são perguntas típicas dos educandos em
outros contextos educacionais. Além desse perfil, ainda havia aqueles que,
mesmo estando no colégio, davam um jeito de gazear as aulas sob os mais
variados argumentos e pretextos.
Diante deste cenário, refletindo
sobre os fins do processo pedagógico e sua adequação à realidade dos educandos
foi proposta uma metodologia diferenciada de avaliação, conforme a seguir
explicitada.
4.1
UMA EXPERIÊNCIA DE AVALIAÇÃO QUALITATIVA EM SALA DE AULA
O ponto de partida foi instituir
que todas as aulas valiam nota. Considerando que os educandos são muito interessados
na nota, então o jeito era fazer com que esse “objeto de desejo” fizesse parte
do processo cotidiano de ensino e aprendizagem. Assim foi pactuado com os
educandos que em cada trimestre, 03 (três) pontos seriam produzidos sob o escopo
de Avaliação Qualitativa, levando em consideração 03 (três) critérios, a saber:
- Assiduidade (Presença em sala de
aula);
- Participação (Ter uma postura de
atenção e acolhimento com as atividades propostas);
- Envolvimento (Estar na sala de
corpo e alma demonstrando estar em sintonia com o desenvolvimento das
atividades).
Para registrar a postura dos alunos
diante dos critérios da avaliação qualitativa foi organizado um instrumento
próprio, no qual eram feitas as anotações individualizadas de acordo com o
desempenho de cada educando. Em cada aula era feita uma anotação no canto
esquerdo da lousa, lembrando aos alunos o pacto da avaliação qualitativa. A
anotação era feita de forma abreviada, assim: AQ=3P, que significada: avaliação
qualitativa igual a três pontos. Assim
as conversas paralelas, as dispersões e as ausências eram causa para perder
décimos preciosos na fórmula de cálculo de 03 (três) pontos, por trimestre.
No decorrer do 1º Trimestre da
aplicação da avaliação qualitativa, percebeu-se alguma mudança em poucos
alunos. Tendo em vista que os educandos não estavam acostumados com esse tipo
de avaliação, não deram muita importância a ela. Quando do fechamento das notas
do 1º Trimestre e quando da análise do desempenho individual é que perceberam
as consequências de suas atitudes pouco comprometidas com as dinâmicas da sala
de aula.
No 2º Trimestre, considerando que
os educandos já estavam familiarizados com o método e, principalmente, sabendo
de suas implicações nos resultados finais, pode-se perceber-se uma mudança
significativa na postura dos alunos. Essa mudança estava relacionada a uma
presença de qualidade em sala, com maior participação e envolvimento. O que se
verificou na sequência, foi uma melhora acentuada de desempenho dos alunos nas
avaliações que compunham os outros 07 (sete) pontos da média.
Essa mudança no desempenho dos
alunos se explica pelo fato de os alunos prestarem mais atenção nas aulas, eles
aprendem mais e, por conseguinte, melhoravam o desempenho nas avaliações. Ou
seja: estar em sala, participar da aula, envolver-se nas dinâmicas e
aprender os conteúdos tudo isso vale
nota. O aluno sabe que o seu desempenho está sendo avaliado de forma contínua,
processual e cumulativa. Isso o deixa mais estimulado e comprometido com o
processo de ensino e aprendizagem. Outro aspecto que ficou bem evidenciado é a
aceitação tranquila dos resultados por parte dos educandos, sem grandes
manifestações de recusa ou acusações ao professor de que o resultado foi
injusto.
5
METODOLOGIA
A metodologia
aplicada para a elaboração deste trabalho seguiu um caminho em que foram
utilizados dois procedimentos. Primeiramente, buscou-se uma ampla fundamentação
teórica, através de uma pesquisa bibliográfica, com o propósito de verificar a
evolução, concepções históricas, objetivos, critérios e instrumentos utilizados
na avaliação. Num segundo momento, para fundamentar os propósitos perseguidos
no título: “avaliação qualitativa em sala de aula – perspectivas e
possibilidades”, lançou-se mão de uma experiência desenvolvida pelo autor, em
sala de aula, com alunos de Ensino Médio, período noturno, no Colégio Estadual
Desembargador Guilherme de Albuquerque Maranhão, na qual utilizando critérios
qualitativos de avaliação conseguiu motivar os discentes a melhorarem os seus
desempenhos de aprendizagem.
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo educativo é permeado por
um conjunto de ações que visa desenvolver o educando integralmente,
contemplando as dimensões cognitiva, piscoafetiva, espiritual e motora.
Neste Trabalho de Conclusão de
Curso pretendeu-se abordar e investigar as possibilidades e perspectivas sobre a
avaliação qualitativa em sala de aula, preconizada em dispositivos legais, além
de um farto e contundente arcabouço teórico acerca do assunto.
Os resultados encontrados dão conta
de que a avaliação qualitativa é possível e deve integrar-se na prática
pedagógica da sala de aula, constituindo-se numa ferramenta de grande impacto
na motivação e comprometimento do educando no processo de ensino e
aprendizagem.
Apresenta o relato sobre uma
experiência desenvolvida pelo autor em sua prática docente, em que pactuou com
os alunos que todas as aulas valiam nota. Atribuiu 03 (três) pontos na média de
cada trimestre a serem conquistados através a assiduidade, participação e
envolvimento dos alunos nas dinâmicas de sala de aula. Os resultados positivos
foram percebidos não somente nos critérios dos 03 (três) pontos (assiduidade,
participação e envolvimento), como também no desempenho dos aprendizes nas
avaliações dos outros 07 (sete) pontos do trimestre. Isso, além de comprovar
uma melhora na aprendizagem, configura a avaliação na perspectiva de ser contínua, processual e cumulativa, com
ganhos qualitativos no processo de ensino e aprendizagem.
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