sábado, 23 de maio de 2020

RIO DOIS ENGENHOS Maurino Prim (1) O RIO DOIS ENGENHOS é um dos afluentes da margem esquerda do Rio dos Bugres, na localidade de Santa Isabel, município de Águas Mornas-SC. O Rio dos Bugres entrega as suas águas ao Rio Cubatão, pela margem esquerda na localidade da Barra, também cognominada de Santa Cruz da Figueira. O Rio Cubatão conduz as suas águas ao município de Santo Amaro da Imperatriz, depois Palhoça, onde encontra a sua foz, depositando um caudal de águas no majestoso Oceano Atlântico. A micro-bacia do Rio Dois Engenhos possui uma morfologia hidrográfica de pequena extensão territorial que, por sua vez, confere ao rio um curso d’água de pequeno tamanho entre a nascente e a sua foz. O seu comprimento total não passa de 2 Km. Atravessa terras pertencentes a sete propriedades localizadas na Estrada Geral do Loeffelscheidt, com as morfologias conforme quadro abaixo: Proprietários Características do Rio Dois Engenhos Jerônimo Kraus Parte alta com as nascentes Nivaldo Heins Porção contígua às nascentes e cabeceiras Nalito Heins Integra a parte alta, sem margens planas Nivaldo Paulo Prim Início da porção intermediária com pequena margem plana Irmãos Pagani Porção contígua à parte intermediária Armando Lofi Porção contígua à parte intermediária Comunidade Evangélica Luterana Parte final onde desemboca no Rio dos Bugres Considerando os aspectos meramente físicos do Rio Dois Engenhos, pode soar exagerada a denominação desse curso d’água como rio. Talvez fosse mais apropriado ser chamado como riacho, córrego, ribeirão, arroio ou sanga. Mas a sua elevação para a categoria de rio justifica-se pela importante contribuição que exerceu nas atividades econômicas de duas propriedades até o final da década de 1970. As terras pertencentes ao Nivaldo Paulo Prim, eram de Norberto Prim, casado com Maria Brick Prim. Tiveram 13 filhos (Antônio, Emília, Osvaldo, Pedro, Leo, José, Isabel, Nivaldo, João, Maria, Maurino, Judite e Maura) e tinha como principal atividade econômica a exploração de um engenho na produção de melado, açúcar, cachaça, farinha de mandioca, polvilho e cuscuz. As terras pertencentes ao Armando Lofi, eram de Gregório Lofi, casado com Filomena Thaigues Lofi e tiveram 5 filhos (Amando, Maria, Alvina, Donato e Francisco) que também tinha um engenho que produzia farinha de mandioca, polvilho e farinha de milho. Armando Lofi, casado com Isabel Thiesen Lofi, tiveram 06 filhos (Isolene, Jairo, Sônia, Humberto, Cesar e José Nazir) e grande parte de sua atividade econômica era oriunda da exploração do engenho edificado por Gregório Lofi, principalmente com a tafona para fazer farinha de milho. Para a tarefa de moer a cana, descascar e ralar a mandioca, triturar o milho em fubá e secar a farinha de mandioca no tacho fazia-se necessária uma fonte de energia capaz de acionar a moenda, o descascador, o ralador, a tafona e o mecanismo de mexer a farinha de mandioca no tacho, enquanto secava. É nessa tarefa que o pequeno rio vira um gigante e transforma-se na grande solução fornecendo a energia necessária para acionar as rodas d’água. O volume hídrico do Rio Dois Engenhos era pequeno demais para conseguir movimentar as grandes rodas d’água. Porém, isso não foi motivo para que ele passasse despercebido e ter o seu potencial ignorado. Através da engenharia de represamento de água foram construídos dois açudes que, depois de acumular uma parte do rio durante umas 6 horas, tinham o suficiente de água para uma tarefa de rala ou de moagem. Através da concretização da máxima “a união faz a força” o pequeno rio juntava as suas águas para depois, em volume apropriado, prestar esse grande serviço de movimentar as rodas d’água, para somente depois seguir o seu curso até a foz e doar as suas águas ao Rio dos Bugres. Por essa razão justifica-se a merecida alcunha de RIO DOIS ENGENHOS para esse pequeno córrego, como tributo e reconhecimento aos grandes serviços prestados às atividades econômicas das famílias que, através desse rio, obtinham o seu sustento. Dois engenhos existiam no pequeno curso desse pequeno rio. Por essa razão fica plenamente justificada a sua denominação como RIO DOIS ENGENHOS. Assim as suas águas dos tempos hodiernos e futuros levarão consigo o registro memorável do seu passado, como fato revelador da identidade dos que com ele interagiram ao longo da história. Além das duas propriedades que utilizavam o Rio Dois Engenhos para as suas atividades econômicas, havia outras duas famílias contemporâneas que moravam nessa micro-bacia e utilizavam as suas águas para o consumo doméstico. As propriedades pertencentes ao Nivaldo Heins e Nalito Heins eram do Lauro Heins, casado com Nair Heins. A propriedade dos Irmãos Pagani pertencia a Celso Kraus, casado com Francisca Prim Kraus, que tiveram dois filhos – Antônio e Pedro Paulo. Também, faz-se necessário lançar um olhar sobre a origem das famílias que habitaram desde outrora, até agora, as terras drenadas pelo Rio Dois Engenho. Até o período Imperial da História do Brasil, há registros da presença de índios, nessa região, chamados de Bugres, de onde se origina a denominação de Rio dos Bugres, cognome da localidade de Santa Isabel. No ano de 1847, o Governo Imperial do Brasil, autorizou a fundação da Colônia de Santa Isabel, às margens do Rio dos Bugres. A Colônia de Santa Isabel nasce dentro do processo da migração alemã para o Brasil, ocorrida no século XIX, quando um contingente expressivo de alemães deixou a sua terra natal e vieram buscar melhores condições de vida no Brasil. As transformações econômicas ocorridas na Europa a partir do Século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, trazem sérias consequências no plano social e político. A falta de terras para plantar e a instabilidade política provocam um forte impacto nas atividades laborativas, fazendo com que multidões de pessoas entrassem em situação de extrema carência de meios de subsistência. Na falta de oportunidades e perspectivas, com a fome e a miséria fitando os horizontes, as pessoas buscam alternativas para sonhar com um futuro melhor. As dificuldades econômicas e sociais no cenário europeu geram as condições propícias para resolver o problema de falta de população no Brasil. Em 1822, com a proclamação da independência, o Imperador Dom Pedro I, articulou e elaborou um plano de migração de europeus para povoar e colonizar as terras situadas na Região Sul do Brasil, com a finalidade de impedir as invasões por parte das colônias espanholas. Assim, inicia-se a saga de milhares de imigrantes alemães, entre outras etnias, que deixaram tudo e saíram de suas terras a procura de uma nova pátria, encontrando um porto seguro no Brasil. No Estado de Santa Catarina foram marcantes os desembarques de alemães e italianos, sem deixar de considerar outras culturas que vieram compor o mosaico etnográfico do Estado. O município de Águas Mornas foi fortemente ocupado e impactado com a presença alemã. Seus descendentes espalharam um rico legado de tradições folclóricas, comidas típicas, traços arquitetônicos, vestuário, língua, religiosidade, entre outras manifestações culturais pelo município. Por essas razões justifica-se a adoção de medidas cabíveis visando preservar a memória dos antepassados que encharcaram esse solo com sangue, suor e lágrimas. A adoção da toponímia de Rio Dois Engenhos se insere nesse intento. Assim as gerações hodiernas e futuras, terão a oportunidade de acessar, através do sentido inserido no nome do Rio Dois Engenhos, as bravas lutas dos pioneiros na ocupação desse espaço. Atualmente o Rio Dois Engenhos não move mais rodas d’água. As suas águas são utilizadas na irrigação de plantações de hortaliças, morangos e um açude para criação de peixes, assim como também para consumo doméstico e a criação de animais. REFERÊNCIAS: - Jochem, Toni Vidal, Pouso dos Imigrantes, Editora Papa-Livro, 1992, SC; - Jochem, Toni Vidal, A Epopeia de uma Imigração, Ed. do Autor, 1997, SC; (1)- Licenciado em Geografia pela UFPR – 1988; - Especialização em Counseling – Aconselhamento e Relação de Ajuda – Faculdade Bagozi – 2002; - Especialização em Metodologia de Ensino de História e Geografia – Uninter – 2013.