quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO COUNSELING NA EDUCAÇÃO

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FACULDADE BAGOZZI
CEPPEB – CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO BAGOZZI
IATES – INSTITUTO DE ACONSELHAMENTO E TERAPIA DO SENTIDO DO SER
MONOGRAFIA
A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO COUNSELING NA EDUCAÇÃO
MAURINO PRIM
CURITIBA – PR
2004

MAURINO PRIM
A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO COUNSELING NA EDUCAÇÃO
Monografia apresentada ao CEPPEB – Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Bagozzi, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Counseling – Aconselhamento e Relação de Ajuda.
Orientador: Agostinho Capeletti Busato
Curitiba, novembro de 2004.

FOLHA DE APROVAÇÃO

RESUMO
PRIM, Maurino. A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO COUNSELING NA EDUCAÇÃO 2004. 33p. Monografia – Programa de Pós - Graduação em Counseling – Aconselhamento e Relação de Ajuda, CEPPEB – Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Bagozzi e IATES – Instituto de Aconselhamento e Terapia do Sentido do ser, Curitiba, 2004.
Orientador: Agostinho Capeletti Busato
Defesa:
Os princípios do Counseling que fundamentam o modelo adotado na relação de ajuda, também têm aplicações no contexto educacional. Embora o método do aconselhamento tenha sido concebido para uma aplicação mais voltada a um público adulto, que voluntariamente venha a procurar ajuda, não se pode desconsiderar os benefícios que os princípios aplicados no Counseling, podem contribuir quando utilizados no contexto educacional. Esta pesquisa tem a finalidade de identificar as intersecções existentes entre as bases teóricas que fundamentam as práticas educacionais e o Counseling – Aconselhamento e Relação de Ajuda. Pretende demonstrar que, se as crianças e adolescentes, em fase de formação e estruturação de suas bases educacionais, forem conduzidas através dos procedimentos aplicados no Aconselhamento e Relação de Ajuda, poderão adquirir os recursos que as estruturem para uma vida psíquica mais sadia e equilibrada. Por outro lado, todavia, tomam consciência de que a própria pessoa é o principal responsável na construção do seu projeto de felicidade.
Palavras – chave: Counseling, Relação de Ajuda, Aconselhamento, Equilíbrio, Educação responsabilidade, felicidade, consciência, saúde psíquica.

AGRADECIMENTOS
A minha família, pelo constante apoio e incentivo na busca pelo conhecimento.
A Deus que é a minha luz, minha proteção e meu refugio.
A Escola CIESC Madre Clélia, da qual sou funcionário com atuação no Serviço de Integração Social, que em muito me estimulou na busca do aprimoramento teórico para melhor desempenhar a missão de educar.
Agradeço em especial ao meu orientador pelo seu esforço e dedicação nas orientações ao longo do desenvolvimento desta monografia.
E a todos que de alguma forma contribuíram direta ou indiretamente na conclusão este trabalho.

EPÍGRAFE
“Se a aquisição de conhecimento não encontrar manifestação na prática e no trabalho, será o mesmo que enterrar metais preciosos; uma coisa vã e inútil. O conhecimento, da mesma forma que a fortuna, devem ser empregados.”
(Autor desconhecido)

SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS................................................................................................
v
EPÍGRAFE................................................................................................................
vi
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................
1
2 JUSTIFICATIVA....................................................................................................
2
3 OBJETIVOS..........................................................................................................
4
4 UMA LEITURA DA REALIDADE SOBRE RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS NO CONTEXTO ESCOLAR E FAMILIAR..................................
5
5 SÍNTESE DE REFERENCIAIS TEÓRICOS SOBRE RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS NO PROCESSO EDUCATIVO...................................................
9
6 O MODELO DA RELAÇÃO DE AJUDA - COUSELING......................................
12
6.1 CONCEITUAÇÃO..............................................................................................
12
6.2 HISTÓRICO E CAMPOS DE APLICAÇÃO.......................................................
12
6.3 COUNSELING – UMA PROFISSÃO EMERGENTE.........................................
15
6.4 CULTIVAR A SI PRÓPRIO................................................................................
16
6.5 HABILIDADES INTERPESSOAIS.....................................................................
17
6.6 TRANSFORMANDO DIMENSÕES EM ATITUDES...........................................
18
7 ASPECTOS CONVERGENTES ENTRE AS TEORIAS EDUCACIONAIS E O MODELO DA RELAÇÃO DE AJUDA......................................................................
20
8 ASPECTOS DIVERGENTES ENTRE AS TEORIAS EDUCACIONAIS E O MODELO DA RELAÇÃO DE AJUDA.....................................................................
22
9 CONCLUSÃO.......................................................................................................
24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................
26

1. INTRODUÇÃO
“O homem é um ser relacional”. Este conceito veio se sobrepor, a partir da década de 1980, ao conceito até então vigente de que “o homem é um ser social”. Com a compreensão alargada a respeito da natureza humana, a psicologia e as ciências afins passam a contribuir com uma base de conhecimentos muito mais sólidos a cerca dos mecanismos e processos desenvolvidos pelo cérebro humano para viabilizar e estruturar os modos pelos quais passa a se relacionar com os outros.
A convivência é uma das primeiras necessidades do homem a qual encontra-se determinado. Mas, se por um lado, ele é então compelido a ter que conviver com outros Seres Humanos, em contrapartida, e até pode soar de forma paradoxal, a convivência também é a fonte primeira de todos os conflitos originados exatamente pela necessidade de precisar conviver muito proximamente com as outras pessoas.
A partir dessa constatação podemos começar a desenhar uma compreensão de que o homem não nasce sabendo conviver. A arte de conviver não nos é dada de forma inata. Ela é adquirida através dos processos e mecanismos educacionais. A partir desta ótica cresce em importância verificar a forma como a educação está sendo conduzida nas escolas e nas famílias. A partir da verificação da realidade que envolve o cotidiano educacional, torna-se possível agir de forma corretiva nos procedimentos educacionais adotados pelos educadores.
Este trabalho tem a intenção de verificar a viabilidade de aplicar os princípios do aconselhamento e da relação de ajuda nas instâncias educativas. Pretende-se demonstrar que, se as crianças e os adolescentes, forem conduzidas em sua trajetória educativa, com a aplicação dos princípios que estruturam o modelo do Counseling, terão maiores chances de se constituírem adultos mais inteiros e capazes de assumir, com consciência e responsabilidade, os ônus e os bônus que a vida venha a lhes impor. Se o processo educacional for capaz de construir um homem equilibrado e completo, não será necessário repará-lo ou consertá-lo através dos processos terapêuticos.


2. JUSTIFICATIVA
Percebe-se atualmente uma grande ebulição no meio acadêmico, com vistas a vislumbrar novos caminhos, novas estratégias e metodologias mais adequadas para conduzir os processos educacionais. Muito se tem falado, muito se tem trabalhado, porém, pouco tem sido feito para mudar efetivamente o quadro caótico pelo qual passa a educação. Quando refiro-me ao quadro caótico da educação estou querendo dar relevo a algumas práticas cotidianas que a justificam como tal. Senão vejamos: l) A pouca importância atribuída à educação, como estratégia política de investimentos para inserir o Brasil, de forma competitiva, na comunidade global; 2) A falta de clareza e objetividade dos currículos e projetos político-pedagógicos que estão sendo executados nas escolas; 3) A falta de qualificação, valorização e motivação dos profissionais da educação; 4) A carência de recursos materiais, entre outros.
Este quadro justifica a necessidade de haver uma urgente mudança na maneira de fazer educação no Brasil. Este trabalho pretende demonstrar que há possibilidades de solução, principalmente no que tange aos conflitos interpessoais que em muito vem desgastando a saúde emocional dos envolvidos no processo educativo. Os relacionamentos interpessoais entre educador e educando, muitas vezes, estão carregados de tensões que acabam prejudicando a ambos. Em via de regra esses conflitos são gerados e alimentados pela falta de clareza e conhecimento dos educadores em saber lidar de forma adequada, com as atitudes desregradas dos educandos. Não raro, percebem-se exigências que são feitas aos educandos, em que não há espaço para acolher o erro ou a inabilidade dele para esta ou aquela tarefa. Embora as ciências que vasculham os processos educacionais tenham já disponibilizado um vasto acervo a respeito de métodos, técnicas, estratégias, encaminhamentos e procedimentos mais adequados na condução do ato educacional, percebe-se que a prática cotidiana ainda está muito impregnada de vícios oriundos do “achismo” ou de estilos educacionais pautados em paradigmas conservadores que já deveriam estar sepultados no museu da memória.
Diante desses argumentos, esse trabalho visa demonstrar que a aplicação dos princípios do aconselhamento e da relação de ajuda, no processo educativo, pode contribuir para a otimização dos relacionamentos interpessoais entre educador e educando. Desta feita haverá melhores condições para que o educando se construa de forma mais plena e equilibrada, o que resultará em melhor qualidade de vida para ambos.


3. OBJETIVOS
3.1 – Abordar o cotidiano das práticas educacionais utilizadas pelos educadores no contexto familiar e escolar;
3.2 – Oferecer uma síntese das bases teóricas que fundamentam os processos educacionais e o Counseling – Relação de Ajuda e Aconselhamento;
3.3 – Identificar as possibilidades de utilização dos princípios da relação de ajuda na educação;
3.4 - Possibilitar uma convivência mais sadia e equilibrada entre educadores e educandos;
3.5 – Contribuir com um referencial teórico para melhorar o desempenho dos educadores em suas práticas cotidianas.

4. UMA LEITURA DA REALIDADE SOBRE RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS NO CONTEXTO ESCOLAR E FAMILIAR
As práticas educacionais adotadas no contexto escolar e familiar nem sempre seguem os modelos teóricos apresentados pelas ciências da educação. Tanto na escola como na família são comuns os atos de violência e desrespeito entre os agentes quem compõem esses dois âmbitos. Basta um olhar um pouco mais acurado para perceber que a teoria e a prática nem sempre andam juntas quando se trata sobre a relação inter-pessoal entre educadores e educandos. No contexto familiar são inúmeras as denúncias de agressões físicas praticadas por pais desajustados, afora todo o jogo de violência psíquica impelida contra os filhos através de linchamentos morais, insultos, xingamentos, ameaças e situações de medo. No ambiente escolar, embora o quadro ser mais ameno, vez ou outra percebe-se atitudes grosseiras, estúpidas, desrespeitosas, ameaçadoras e constrangedoras por parte de educadores menos preparados.
Esses âmbitos fazem florescer uma combinação de elementos que atrapalham a coexistência sadia de crianças, jovens e adultos. Os conflitos relacionais tendem a transferir um ônus significativo sobre a qualidade dos processos educacionais, que tem nas crianças e nos jovens as suas principais vítimas. Poder-se-ia inferir que a criança nasce perfeita, cresce e se deforma ao longo da sua evolução para a vida adulta, chega na fase adulta cheia de crises e síndromes, para então ser socorrida e endireitada pelos serviços terapêuticos.
Essa realidade, que assola a criança na travessia do seu estado original para uma vida adulta, que deveria ser plena de sentido, infelizmente deixa um rastro de problemas que fazem surgir os estados de vazios existenciais. Agir sobre este contexto deve ser um dos objetivos dos que querem mudar o perfil da saúde psíquica das pessoas.
Para configurar de forma mais ampla a compreensão da gênese do fenômeno dos conflitos relacionais no âmbito familiar, transcrevo abaixo alguns fragmentos do Ensaio Caim e Abel, formulado por Jerri Roberto S. de Almeida.
“O conflito familiar expresso entre Caim e Abel, no relato bíblico, constitui o estereótipo ou drama da violência familiar que persiste na sociedade contemporânea. Caim personifica, historicamente, o componente desagregador das relações convivências domésticas: ambição, inveja, vaidade... no ímpeto de se sobrepor ao outro como medida infantil de auto-afirmação psicológica.
A violência é um produto direto da insensibilidade para o amor e da correlativa ausência de mecanismos educacionais e moderadores da agressividade humana. Mas o homem, como dizia Goethe, "não é só o inato; é também o adquirido". O meio ou a sociedade, nesse sentido, tem contribuído com uma cultura que dissemina tenazmente a violência e desorienta as mentes mais frágeis. A sociedade pós-moderna ensejou valores que nos expropriam o amor e nos devolvem o sexo. A convivência familiar se torna, em muitos casos, individualista, intolerante, fria e desmotivadora.
A violência familiar possui vários matizes. Tem-se definido a violência como: "toda coação que alguém procura exercer sobre a liberdade e a dignidade do outro". ... o egoísmo e o orgulho são componentes primários da violência, de onde derivam outras formas de violências como: a agressividade, o rancor, o individualismo, a impaciência, a falta de carinho, etc. O exemplo de Caim e Abel se reproduz em milhares de lares, a cada instante...
Símbolos psicológicos
Se Caim iniciou a violência doméstica, assassinando o próprio irmão, o ato de "assassinar" deve ser analisado em sentido mais amplo, não limitando-o a única idéia de "tirar a vida". O ato de assassinar implica em não saber conviver com o diferente e com as situações adversas. O exemplo bíblico é peculiar: "Abel foi pastor de ovelhas e Caim foi lavrador de terra. E aconteceu que ao cabo de dias, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e sua oferta não atentou. " Resultado: " E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante." [Gênesis 4:1-7]
Temos, nessa passagem, a articulação de diversos elementos importantes. Irmãos com tarefas distintas, ambos oferecendo suas produções peculiares. Uma oferta é aceita e outra é recusada. Isso significa que Abel é aceito e Caim é rejeitado. Temos, portanto, configurado o problema da "rejeição". O não saber lidar com a rejeição gera a "ira" e o "ciúme", componentes básicos da "violência", O "Senhor" personifica a figura dos pais que possuem o filho "preferido". Tudo que esse filho faz é elogiado e aceito. O que o outro realiza é tratado com indiferença. Psicologicamente, o rejeitado começa a "matar" o irmão preferido, introjetando posturas mentais de negatividade. Entretanto esse exemplo é extensivo, também, aos demais setores do relacionamento familiar. A família, portanto, terá que aprender a lidar com as suscetibilidades e especificidades de cada um e extrair disso um resultante que enriqueça o patrimônio relacional e espiritual da própria família. A proposta é desafiadora, mas essencial para o desenvolvimento evolutivo da coletividade.
Atualmente, observa-se que, em diversos níveis, a sociedade civil através de seus elementos constitutivos, busca discutir a questão da violência familiar. Chegamos a um momento crítico e necessitamos repensar que convivência queremos. Reconhecer o problema já é um operoso caminho. Mas só isso não basta. Necessário buscarmos a inspiração no Evangelho do Cristo para fortalecer as bases do amor em nossa família. Portanto, o problema da agressividade na família é nosso e temos que assumi-lo. Significa dizer que não se pode simplesmente, ou unicamente, ficar "contratando profissionais para resolver os nossos problemas" e abdicarmos de nossas prerrogativas. Observamos, igualmente, com Caim e Abel, que quando o desejo de ser reconhecido é frustrado há um incremento da pulsão agressiva. Isso nos remete a educação na infância. Crianças que são educadas para enfrentarem as vicissitudes e os reveses da vida, certamente, terão formas diferenciadas de lidar com a frustração e a agressividade. A educação para a sensibilidade ética, estética e espiritual torna-se imperativo, se desejamos investir na saúde de nossa família.
O desenvolvimento da complexidade familiar exige, por parte de seus integrantes, um investimento cada vez maior na área dos sentimentos. Pais violentos ensinam, pelo exemplo, agressividade aos filhos. Dessa forma, pais e filhos passam a usar a violência como um recurso para vencerem dificuldades, automatizando e vitalizando seus instintos agressivos, gerando infelicidades.
Se o homem não é só o inato mas é também o adquirido, podemos adquirir os instrumentos informativos e motivacionais para instaurarmos, mesmo na nossa condição de humanidade, um clima familiar de harmonia, conservando e "cuidando" para que as relações de afeto e amorosidade não se afastem do nosso convívio. Quando a família aprende a amar, a violência se recolhe, transformando-se em peça de museu. Pode alguém pensar: Bom, tudo isso é mera teoria. Respondemos que a teoria existe para melhorar a prática....
A regra áurea
A regra áurea para o desenvolvimento desse estado de moralidade nas relações familiares e sociais, se expressa maravilhosamente na máxima cristã: "Faça ao outro somente o que gostaria que o outro lhe fizesse." Aí está a síntese de todos os ensinamentos, historicamente, ensinados ao ser humano para conduzi-lo à felicidade familiar e social.
O mito bíblico de Caim e Abel é oportuno para um estudo psicológico das relações familiares, muitas vezes, impregnadas de ciúmes, rejeição e agressividade. Disso conclui-se a importância de edificarmos uma ética para a paz, naturalmente, consubstanciada em princípios autoevidentes como, por exemplo, a hospitalidade e a generosidade. Hospedar o outro é acolhê-lo em suas necessidades com alteridade. A generosidade, a seu turno, nos permite olhar o outro sem que ele seja o outro, mas como fazendo parte, também, de nós. Com o exercício em família dessas virtudes, estaremos nos exercitando para a construção de uma nova sociedade formadora de uma nova cultura. Ao invés de destruir o outro, estaremos melhor compartilhando nossa humanidade comum, espiritualmente mais plena de realizações.”
Com esta abordagem pretendemos ter conseguido demonstrar um pouco da realidade que permeia a difícil arte de conviver. Por outro lado, todavia, o homem é um ser relacional que não consegue sobreviver fora do organismo social. Esse aparente paradoxo, que tem a dificuldade relacional de um lado e o determinismo social de outro, mostra os desafios que precisamos aprender a superar para podermos transcender cada vez mais em nossa humanidade.

5. SÍNTESE DE REFERENCIAIS TEÓRICOS SOBRE RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS NO PROCESSO EDUCATIVO.
Os referenciais bibliográficos que tratam das questões atinentes ao processo educativo, convergem para uma mesma direção quando o foco está centrado no aspecto relacional. A relação entre o educador e o educando deve ser espelhada por princípios que tenham como base e fundamento o respeito mútuo.
Para TIBA, 1996, a convivência entre educador e educando, seja no contexto familiar ou escolar, deve ser conduzida mediante a utilização de três estratégias fundamentais: coerência, constância e conseqüência.
Sendo coerente o educador consegue conduzir as suas ações de forma integral e manter uma linha de vinculação entre o que ele diz e pratica. Através da constância o educador afirma a sua solidez em relação aos seus princípios e objetivos, sendo, por conseguinte, um guia determinado e capaz de não se deixar desviar de sua trajetória. O educando deve ser ensinado a assumir as conseqüências dos seus atos. Por essa compreensão deve-se ter como prática atribuir ao educando as conseqüências em face de atos irresponsáveis ou inadequados que venha a ter.
Segundo TIBA, 1996, a educação enfrenta atualmente muitos problemas. Entre os que afetam os alunos o mais grave é a falta de disciplina e responsabilidade, complementada pela dificuldade dos educadores de tomarem atitudes de autoridade coerentes com sua função, temendo cair em um abusivo autoritarismo, que é antipedagógico. No contexto familiar é saudável que os pais preparem os filhos para arcarem com as suas responsabilidades. Com o passar dos anos, elas vão delegando à criança o poder de se cuidar. Isso é muito diferente de abandonar totalmente o filho para que ele se vire sozinho.
Geralmente, a criança faz bem menos do que ela precisa. Não importa. Nada mais gratificante para a criança do que a sensação de ser capaz de realizar algumas coisas, principalmente quando o benefício é para ela mesma. Ela estampa no rosto um olhar de vitória quando consegue vestir a própria roupa, amarrar o tênis, pegar um copo de água. Como se cada realização fosse um aprendizado que vai servir de base para um outro desafio, uma nova realização.
Esta possibilidade de conseguir realizar suas vontades e necessidades dá à criança uma grande auto-estima, que é a capacidade de gostar de si mesma. A criança não pode dar o segundo passo sem antes dar o primeiro. E o primeiro passo é tentar, sem a obrigação de acertar. Cabe aos pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Quando os pais não estimulam a criança a tomar a iniciativa, não elogiam as tentativas e, pelo contrário, fazem primeiro o que o filho poderia executar sozinho, esses pais estarão prejudicando o desenvolvimento infantil.
Segundo ZAGURY, 2000, é fundamental o estabelecimento de padrões éticos e morais para nortearem a nossa conduta educacional. O legado moral que passarmos aos nossos filhos poderá determinar futuramente uma mudança de valores da nossa sociedade.
A criança é hedonista por natureza, isto é, busca espontaneamente aquilo que lhe dá prazer, que satisfaz seus desejos, curiosidades e interesses. Sendo assim, dificilmente ela pensará, por si só, no outro, mesmo porque ela ainda não tem essa capacidade de sentir com o outro, ou seja; ser empática. O egocentrismo é outra característica da criança e mesmo dos jovens, sendo incapaz de sentir pelo outro. Essa realidade natural da criança precisa ser trabalhada e modificada pelos pais e professores a fim de dar-lhe as condições necessárias para a convivência social equilibrada e sadia.
Ensina-nos, também, ZAGURY, 2000, que é importante ter segurança, metas educacionais, clareza de objetivos cujas ações devem orientar a ação dos educadores junto aos educandos. Se perceber que o educando agiu errado, converse com ele, mostre-lhe o caminho ou faça-o pensar sobre a atitude tomada.
BIDULPH, 2003, coloca o amor como elemento fundamental para uma base sadia de relação interpessoal. Usa a expressão de amor suave e amor firme para se referir ao gradiente de amor que devemos usar no processo educativo. Amor suave significa o uso adequado da tolerância, sem, no entanto, ser exageradamente permissivo. Amor firme significa a imposição de limites, sem, no entanto ser grosseiro e agressivo.
CASAMAYOR (2002), mostra-nos que o conflito é algo intrínseco à convivência. Ninguém, nenhum grupo humano, nenhum casal por mais novo que seja, ainda que disponha de uma couraça protetora, está a salvo de conflitos. O conflito não é, necessariamente, sinônimo de indisciplina. O conflito é o resultado de um choque de interesses divergentes. Já o comportamento indisciplinado caracteriza-se pela tentativa de querer impor a própria vontade sobre o restante da comunidade, ou atitudes que vão contra as regras estabelecidas.
Esses choques de interesses divergentes causadores de conflitos, assim como também as atitudes tipicamente indisciplinadas, devem merecer uma intervenção qualificada e cuidadosa por parte dos educadores, a fim de que esses momentos possam ser aproveitados como oportunidades privilegiadas para educar.
Em via de regra, a convivência no contexto escolar, encontra-se definida no regimento interno. As normas e regras, direitos e proibições, penalidades e responsabilidades devem estar claramente expressas no regimento interno. A sua elaboração deve se dar de forma democrática, com a participação de todo conjunto da comunidade escolar – mantenedora, pais, professores, funcionários, alunos, etc.
No ambiente familiar não há um documento formalmente elaborado com a denominação de regimento interno. No entanto, mesmo com a sua ausência formal, ele existe de uma forma informal. Todas as famílias, assim como também todos os agrupamentos humanos de qualquer natureza, estabelecem um código de conduta não escrito, que rege as relações inter-pessoais no interior do grupo.

6. O MODELO DA RELAÇÃO DE AJUDA - COUNSELING
6.1 Conceituação
O Modelo da Relação de Ajuda, também conhecido pelo seu termo original “Counseling”, que quer significar aconselhamento, é definido como um processo de interação entre duas pessoas – counselor e cliente - e tem como objetivo habilitar o cliente a tomar decisões de caráter pessoal diante de algum problema em que esteja envolvido (DANON, 2003).
Tem a sua fundamentação teórica centrada nos ensinamentos de Carl Rogers, com sua visão de ser humano bastante otimista, baseada sobre a liberdade e a responsabilidade, Abraham Maslow, com seus estudos a respeito da personalidade sadia, Rollo May, enfatizando o ser e o seu devir, Viktor Frankl, que trouxe a importância de se dar um sentido à própria vida, Roberto Assagioli, que focalizou a dimensão espiritual do indivíduo, Fritz Perl, que aposta na capacidade e autocontrole dos seres humanos, entre outros.
6.2 HISTÓRICO E CAMPOS DE APLICAÇÃO
O surgimento oficial do counseling deu-se nos anos cinqüenta do século passado, nos Estados Unidos e nos anos setenta, na Europa, em cujos espaços a atividade encontra-se estruturada como uma profissão reconhecida com uma atuação e aplicação em diversos âmbitos, a saber:
ÂMBITO COMUNITÁRIO:
Counseling psicopedagógico
A escola e os centros de formação são espaços propícios para a aplicação desses princípios de comunicação de qualidade, em que os agentes devem gerir, além dos conteúdos pedagógicos, dinâmicas de grupo, relações interpessoais conflitivas em suas diversas formas de manifestação: alunos ou crianças, pais ou responsáveis, colegas e professores.
Counseling de comunidade
Em todos os contextos sociais a presença de um facilitador da comunicação é muito importante, e de modo particular as comunidades que apresentam um maior grau de dificuldades: comunidades carcerárias, drogados, jovens em dificuldades, orfanatos, entre outras.
Counseling espiritual
As crises de natureza espiritual possuem uma configuração difusa e devem ser enfrentadas de maneira adequada, pois podem ser facilmente confundidas com problemas de ordem psicológica ou psiquiátrica. Possui uma abrangência tanto para as pessoas religiosas, como também para o mundo leigo.
AMBITO DE TRABALHO
Counseling empresarial
Muitos problemas das empresas não devem ser considerados apenas sob o ponto de vista técnico, mas também humano, com os fatores pessoais, emocionais e comunicativos, que muitas vezes são ignorados, embora se apresentem de grande relevância. Intervindo no estado do bem estar psicológico do pessoal se levanta o nível motivacional, o nível de produtividade e de rentabilidade, mas, sobretudo, o nível de satisfação dos colaboradores.
Counseling vocacional
Ajuda a pessoa a conhecer-se, a utilizar as potencialidades não expressas e a elaborar um projeto de trabalho em sintonia com as capacidades e os interesses individuais.
AMBITO SÓCIO-SANITÁRIO
Counseling psicológico
Campo de atuação exclusivo dos psicólogos, que com suas competências específicas podem intervir de forma mais especializada, fazendo uso do diagnóstico, a prevenção e a orientação.
Counseling sócio-sanitário
A comunicação e o bom relacionamento entre o médico e o pessoal paramédico com o paciente é um fator coadjuvante no processo de cura.
Counseling médico
Cada consulta médica deveria ser um counseling médico, em que, além de serem examinados os problemas físicos, com seus respectivos diagnósticos, exames e prescrições, o paciente pudesse sentir-se considerado e escutado também como pessoa.
Counseling na arte
Toda vez que se facilita a livre expressão, entra em causa um processo de libertação de conteúdos internos, de forma simbólica, que tem um efeito libertador e, com freqüência de catarse.
Counseling no âmbito particular
Os desconfortos existenciais que afligem as pessoas precisam de um ouvido atento e de um sinal de encorajamento, para recuperar a própria força e prosseguir em seu caminho.
Counseling na relação de casal
A intervenção de uma terceira pessoal pode ser muito importante para enfrentar, compreender e resolver problemas de relação interpessoal e de casais.
Counseling de acompanhamento para a morte
A morte normalmente é tratada como um tabu e vista como algo abstrato e distante de nós. Não se fala dela, não se pensa sobre ela, e quando acontece com alguém próximo, tem-se um trabalho muito profundo a ser feito para permitir um enfrentamento mais sereno.
Counseling telefônico
São conhecidas as mais diversas formas de ajudas que são prestadas pelo telefone: disque amizade, tele-mensagem, telefone azul, telefone verde, entre outras. Oferecem uma possibilidade anônima de ajuda a quem jamais teria a coragem ou a possibilidade de fazê-la abertamente.
Além dos campos de aplicação do counseling, acima descritos, ainda pode ser utilizado em outras situações de emergência em que é necessária uma preparação específica: tentativas de suicídio, seqüestro com reféns, calamidades naturais ou acidentais, atentados, guerras, etc.
6.3 COUNSELING – UMA PROFISSÃO EMERGENTE
O indivíduo do terceiro milênio necessita de um conjunto de habilidades capazes de despertar e ativar todas aquelas potencialidades ainda descuidadas pelos sistemas educativos convencionais em favor das normas intelectuais e comportamentais.
A nova configuração social requer pessoas que possam manipular com desenvoltura e destreza um conjunto de habilidades e desafios, tais como:
Capacidade de julgamento autônomo;
Capacidade de enfrentar situações complexas e crises, tanto individuais quanto coletivas;
Versatilidade e maleabilidade intelectual para enfrentar mudanças rapidíssimas;
Tolerância e espírito de solidariedade para conviver com os outros, respeitando as diferenças individuais.
Diante desse contexto nasce a exigência de uma abordagem terapêutica entendida como ciência do humano, em condições de ocupar-se não com a doença, mas com o mal-estar, para depois se concentrar no bem-estar. Um caminho que saiba guiar o indivíduo até um contato mais profundo consigo mesmo, com as próprias necessidades, com as próprias capacidades escondidas ou esquecidas, e chegar, enfim, a uma maior confiança em si mesmo.
A pessoa sabendo ocupar-se melhor consigo mesmo e com o próprio bem-estar, torna-se assim mais funcional à comunidade, podendo interagir de forma mais positiva com os outros, substituindo desconfiança e incomunicabilidade por maior disponibilidade, empatia e escuta.
6.4 CULTIVAR A SI PRÓPRIO
O olhar para si mesmo pode ser uma tarefa difícil quando não se tem este hábito. Os sentimentos, emoções, imagens, sensações, pensamentos, temores e desejos podem estar desorganizados e confusos a ponto de não permitirem uma distinção e mesmo uma percepção muito clara do que passa no interior da pessoa.
O crescimento pessoal prevê um treinamento para uma atenção aos conteúdos interiores, para uma auto-observação, a fim de que os indivíduos possam tomar-se pela mão e saber distinguir as diversas linguagens que brotam dos componentes físico, emotivo e mental. O filósofo Arthur Koestler identificou as dimensões física, emotiva e metal como sendo os três componentes principais causadores dos desequilíbrios em nossa natureza individual. Esta percepção foi também confirmada pelo neorufisiologista Paul Mclean, quando evidenciou que corpo, emoções e mente fazem referência a três componentes diferentes do cérebro, a saber:
O corpo tem inteligência e autonomia próprias e provê as funções vitais do organismo mesmo sem a participação direta da vontade, tem exigências que podem ser diferentes e inclusive opostas àquelas da mente, tem uma linguagem própria, se expressa por meio do movimento e tem uma sede própria de comando, assim chamado de cérebro retiliano, a parte mais antiga do cérebro.
As emoções têm outra lógica, outra linguagem, e se expressam através da imagem, da metáfora e da analogia. São governadas pelo mesoencéfalo, que regula o sistema límbico.
A atividade da mente, o pensamento, a palavra, o raciocínio lógico, por sua vez, são coordenados pelo córtex cerebral, o componente evolutivo mais recente no ser humano.
Estas três dimensões representam forças autônomas e independentes dentro do indivíduo, com um notável dispêndio de energia e causadores de conflitos interiores nem sempre evidentes. A única forma de equilibrar estas forças é por meio da tomada e consciência de seu funcionamento e a ativação de uma lúcida consciência pessoal, capaz de assumir o comando e coordenar a atividade dessas energias, respeitando as necessidades de cada uma.
6.5 HABILIDADES INTERPESSOAIS
A abordagem mais efetiva no tocante às habilidades interpessoais foi desenvolvida por Robert R Carkhuff e Bernard G. Berenson, através do seu Modelo de Ajuda. As posturas terapêuticas apresentam seis dimensões básicas, que, quando assumidas pelo terapeuta na relação de ajuda oferecem ganhos construtivos ao cliente.
Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro;
Aceitação incondicional: capacidade de aceitar o outro integralmente, sem julgamentos pelo que sente, pensa, fala ou faz;
Coerência: capacidade de ser real, de se mostrar ao outro de maneira autêntica e genuína;
Confrontação: capacidade de perceber e comunicar ao outro certas discrepâncias e incoerências em seu comportamento;
Imediaticidade: capacidade de trabalhar a própria relação terapeuta-cliente, abordando os sentimentos imediatos que o cliente experimenta pelo terapeuta e vice-versa;
Concreticidade: capacidade de decodificar a experiência do outro em elementos específicos, objetivos e concretos.
6.6 TRANSFORMANDO DIMENSÕES EM ATITUDES
A partir da operacionalização das dimensões do terapeuta e dos efeitos por elas provocados nos clientes, desenvolveu-se o Modelo de Ajuda. Esse inclui as atitudes do ajudado durante o processo de mudança, e as habilidades do ajudador que possibilitam essa mudança – habilidades essas observáveis, mensuráveis e transmissíveis.
Atitudes do ajudador:
Sintonizar: entrar em sintonia com o ajudado, comunicando-lhe, de maneiras não-verbais, disponibilidade e interesse;
Responder: comunicar, corporal e verbalmente, compreensão pelo ajudado;
Personalizar: mostrar ao ajudado sua parcela de responsabilidade no problema que está vivendo;
Orientar: Avaliar, com o ajudado, as alternativas de ação possíveis e facilitar a escolha de uma delas.
À medida que o ajudador sintoniza, responde, personaliza e orienta, o ajudado começa a comportar-se de modo a promover sua própria mudança, através das seguintes fases:
Atitudes do ajudado:
Envolver-se: capacidade de se entregar ao processo de ajuda;
Explorar: capacidade de avaliar a situação real em que se encontra no momento do processo de ajuda – definir com clareza onde está;
Compreender: estabelecer relações de causa e efeito entre vários elementos presentes em sua vida, perceber a sua responsabilidade na situação que está envolvido e definir onde que chegar;
Agir: movimentar-se do ponto onde está para onde que chegar, estabelecendo o plano de ação para saber como chegar lá.

7. ASPECTOS CONVERGENTES ENTRE AS TEORIAS EDUCACIONAIS E O MODELO DA RELAÇÃO DE AJUDA
As correntes teóricas das diversas pedagogias educacionais têm muito em comum com os postulados do Counseling. A linha que separa a educação da terapia é muito tênue. Esta singularidade fica muito evidente nas palavras de Viviane King, counselor de psicossíntese nos Estados Unidos, quando diz: “Se chega em tempo é educação, se chega tarde é terapia”. Esta frase quer nos dizer que o counselor deve ser substancialmente um educador, cuja tarefa é ativar algumas potencialidades fundamentais da natureza humana, por vezes parcial ou totalmente adormecidos.
O counseling psicopedagógico remete para a escola e os centros de formação os campos naturais para a aplicação de seus princípios, pois seus operadores tratam com o ser humano em sua dimensão relacional, fonte de surgimento de conflitos interpessoais geradores de crises e perturbações com forte impacto sobre os sentimentos.
Carl Rogers foi um dos inspiradores de uma metodologia inovadora no campo psicopedagógico. A própria escola deveria assumir o papel de guiar o aluno na descoberta e no desenvolvimento de suas potencialidades mais altas, ecarregando-se de fornecer uma adequada preparação para o crescimento em todos os níveis, não apenas culturais, orientando os jovens na compreensão e na gestão dos próprios impulsos, conflitos, sentimentos, pensamentos, fantasias, valores e ideais.
O trabalho mais significativo cabe aos professores em primeira mão, antes mesmos dos programas curriculares. A função educativa está nas mãos do mesmo professor que desempenha um duplo papel:
Quantitativa, por meio da transmissão de informações;
Qualitativa, por meio de sua personalidade e da comunicação verbal e não-verbal que se instaura entre ele e os alunos.
O Professor, querendo ou não, desempenha um papel educativo muito mais importante do que aquele instrutivo e precisa de um apoio e de uma preparação adequada para enfrentar este desafio.
Na educação conta muito mais aquilo que se é do que aquilo que se diz, sobretudo se o objetivo é criar um clima de comunicação autentica e ativar relações de qualidade e de recursos internos dos próprios alunos. Os educadores devem ser incentivados a terem a mesma disponibilidade e abertura também nos confrontos do próprio processo de crescimento pessoal, para assim poderem fazer-se de intérpretes desta nova imagem do “homem que realiza suas próprias potencialidades”, tornando-se mensagem viva e não mais simples repetidor de informações.
As finalidades do counseling são, em nível individual, a recuperação de um correto e harmonioso percurso auto-educativo, que tem, antes de mais nada, a obrigação de levar os indivíduos à descoberta de uma maior confiança em si próprios, criatividade, autocontrole, autodisciplina, autonomia e responsabilidade.
Percebe-se que os objetivos do Counseling e os objetivos perseguidos durante o processo educacional muito semelhantes. Ambos pretendem construir um indivíduo capaz de agir de forma autônoma, responsável e livre. Nisso não há dúvidas com relação às pretensões do Counseling e da educação. Todavia, embora os fins sejam os mesmos, não podemos deixar de apontar algumas diferenças no tocante ao meio, ou seja, ao modo particular de ação. E é isso que vamos ver a seguir.

8. ASPECTOS DIVERGENTES ENTRE AS TEORIAS EDUCACIONAIS E O MODELO DA RELAÇÃO DE AJUDA
Embora haja um campo de ação entre o Counseling e as práticas educacionais que se mistura e se imbrica, não podemos deixar de identificar as suas fronteiras e modos de agir divergentes.
No Modelo de Relação de Ajuda tem-se como premissa a iniciativa do ajudado em buscar a ajuda, assim como também goza de total liberdade para interromper o processo a qualquer momento. Além disso, no Counseling, o ajudador desempenha uma função tipificada como guia qualificado, que acompanha o ajudado a refletir sobre um problema específico, para o qual busca compreensão e solução. Cabe, portando, ao ajudado percorrer dialogicamente por seus imbróglios existenciais e o ajudador acompanha-o, incondicionalmente, até onde ele for capaz de ir.
A relação educativa entre um educador e um educando dá-se de maneira diversa. O ato educativo tem um objetivo definido a partir do educador. A criança, o aluno ou o formando são conduzidos e envolvidos em processos cujos objetivos vêm pré-estabelecidos por uma instituição social. (Escola, família, centros de formação, etc). Ao longo da caminhada, o educando é estimulado, orientado, admoestado, compelido e até punido em relação ao seu desempenho educacional. Espera-se que ao longo do processo ele adquira as habilidades necessárias para ser agente de ação e transformação social, com um domínio satisfatório nos seguintes saberes:
Saber conhecer;
Saber fazer;
Saber ser
Saber conviver.
O processo educativo também é permeado por uma dose significativa de conflito. Não que o conflito aqui invocado seja visto como algo ruim ou de conotação menor e problemática. Ele está naturalmente presente em face da posição ocupada pelos sujeitos que interagem na relação educativa. É o confronto entre o “dever ser”; o “querer ser” e “aquilo que se é”. O papel do educador, nesse processo é apontar o caminho do “dever ser”. O educando, por sua vez, a partir do que ele é, tende a preferir agir na direção do “querer ser”. Surge nesse âmbito um campo de tensão entre o educador e o educando que é fonte de conflitos, atritos e divergências entre ambos.
Houve tempo em que algumas correntes educacionais sustentavam em suas premissas uma relação mais livre e não diretiva entre educador e educando. Os resultados dessas experiências mostraram que a ausência de limites no processo educacional dificulta a configuração da criança para uma inserção equilibrada e sadia no seio da sociedade. A liberdade desmedida vira liberalidade. O efeito é o exercício da liberdade desprovida de responsabilidade. Numa escala social as perdas são significativas e os desequilíbrios difíceis de serem reparados.
Por este prisma é possível vislumbrar que o processo educacional possui especificidades e peculiaridades que não podem ser removidas pela simples intenção de querer metodologias novas e progressistas. Não se pode desejar eliminar aquilo que é estrutural, alicerce e básico, sobre o qual pretende-se erigir uma edificação sólida.
Por essa via, não poderíamos pretender desejar que o Modelo de Relação de Ajuda venha a ser usado de forma plena como método educacional. Porém, todavia, não podemos deixar de considerar que os seus ensinamentos e estratégias constituem-se num ferramental precioso a ser utilizado pelos educadores em sua nobre e difícil tarefa de educar.
Por fim, há de se considerar que nenhum ramo das ciências humanas, isoladamente, é capaz de dar conta, plenamente, do que podemos denominar de “ser humano”. Juntando os conhecimentos de todas elas – filosofia, sociologia, psicologia, teologia, antropologia, pedagogia, etc – não se consegue uma definição absoluta e real do “ser humano”. A integração de todas as ciências humanas certamente trará melhores resultados nesse intrigante trabalho de desvelar as complexas entranhas da natureza humana


9. CONCLUSÃO
Confesso que a investigação bibliográfica levada a efeito nesse trabalho foi muito gratificante. Possibilitou vasculhar duas bases teóricas diferentes e identificar seus pontos de congruência, assim como também apontar as suas divergências. O ponto de partida foi o de verificar a possibilidade de aplicar os princípios do Counseling na Educação. Tínhamos, portanto, o desafio de fazer um estudo comparativo entre os modos relacionais apregoados para o processo pedagógico, que opera a ralação Professor-Aluno, e os vínculos que se estabelecem entre o ajudador e ajudado no processo do Counseling – Aconselhamento e Relação de Ajuda.
Os resultados não nos apontam a possibilidade de adotar o Modelo da Relação de Ajuda em substituição às abordagens pedagógicas que norteiam as práticas educacionais nas escolas. Porém, se por um lado não se pode aventar a hipótese de se trocar simplesmente de método, também não se pode desconsiderar as contribuições valiosíssimas que os ensinamentos do Counseling podem agregar ao processo educativo. Trata-se, portanto, da incorporação de conteúdos às atividades pedagógicas que tem a sua origem centrada no Modelo da Relação de Ajuda.
Neste particular pode-se perceber a imbricação do processo educativo com o Counseling, pois o ato de educar, em seu sentido amplo, também se caracteriza pela relação de ajuda. O professor visto como mediador entre o sujeito da aprendizagem – o aluno – e o conteúdo a ser apreendido, não deixa de ser uma ralação de ajuda.
Todavia, a contribuição maior que os ensinamentos do Counseling podem oferecer ao processo educativo, não está centrada na possibilidade da utilização de seus métodos e estratégias em si. O ganho substancial está na oportunidade do professor aprender a lidar melhor com o Humano que habita nele e nos alunos. Em última análise, o ato educativo deve ter como fim, permitir que o educando revele o Ser Humano que jaz latente em sua natureza primária. Aprender a lidar com o Ser Humano. Aí reside a contribuição primordial que o Counseling pode dar à Educação.
Numa primeira olhada, poderia-se dizer que este é um aspecto trivial no processo educativo, já que o papel do professor é ensinar e do aluno, aprender. Ocorre que o contato entre o Professor não pode ser reduzido a uma mera relação de transmissão de conteúdos. Quando o Professor e o Aluno se põem frente a frente, entra em ação uma relação sinérgica na qual trocam conteúdos que afeta o Ser Humano que há em cada um. Esse ato de afetar significar compreender que ambos não saem ilesos da relação.
Aprender a lidar com o Ser Humano começa por aprender a saber lidar consigo mesmo. Conhecer-se a si mesmo. Gerenciar as emoções nos momentos de tensão. Pegar-se na mão. Controlar os fluxos das impulsões emocionais que tentam desestabilizar a tranqüilidade da alma. Compreender que ninguém pode ferir-te, a não ser você mesmo. Esses são alguns desafios a serem superados pelos educadores que fazem parte do que poderíamos denominar “saber lidar com o ser humano”.
No tocante a estes aspectos o Counseling tem muito a contribuir com a educação. Diria que esta contribuição deveria ser iniciada já nos cursos de formação dos profissionais para o magistério, com a inclusão de conteúdos na grade curricular que, viessem a dotar o professor com uma bagagem de conhecimentos capazes de saber lidar com os aspectos emocionais e relacionais dos alunos.

RERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, J.G. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. 148p.
DANON, M. Counseling: uma nova profissão de ajuda. Curitiba: Sociedade Educacional e Editora IATES, 2003. 232p.
FELDMAN, C.; MIRANDA, M. L. Construindo a relação de ajuda. 13ª ed. Belo Horizonte: Crescer, 2002. 261p.
MIRANDA, M. L. Quem tem medo de ouvir? Guia do observador. Belo Horizonte: Crescer, 1999. 155p.
MIRANDA, M. L. Quem tem medo de escutar? Guia da sabedoria. Belo Horizonte: Ceap, 2002. 160p.
TIBA, I. Disciplina: limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996. 193p.
ZAGURY, T. Educar sem culpa: a gênese da ética. 16ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. 220p.
ZAGURY, T. Limites sem traumas. 10ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 174p.

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